"O que a memória retém, gravado no meu espírito desde aqueles dias doirados, é a experiência da amizade, a aproximação a essa ideia latente e mítica de Felicidade, alimento do resto dos nossos dias (sol a roçar o mar, visto da torre da nunca acabada Mesquita de Rabat, poisada sobre terreiro polvilhado de fustes e fundações de colunas; banhos nas prais desertas do Atlântico, ondas altíssimas e suaves, ruínas romanas à vista; pó encobrindo cavalos e cavaleiros, fuzis disparados a um metro de distância; janelas abertas de um carro desajustado, a ferver sob o sol, recusando o Atlas como o Deserto; tronco curvado ao entrar na Mesquita de Fez; couro tingido a mil cores, de odor tão insuportável quanto a beleza; linha nítida na fronteira do deserto, pedrinha negra contra areia em cor de Gaugin; calma nas esplanadas onde se bebe chã de menta, silêncio ou sussurro, olhar doce, olhar e voz de uma cultura antiquíssima de sábios e poetas; desembarque em Algeciras, de novo as vozes agudas, tumulto nos cafés e nos terraços).
Recordo isso e muito mais e não acredito que seja apenas nostalgia. Recordo a ausência de ansiedade.
Presença dos Ausentes."
Álvaro Siza
Julho de 2006, Porto
in "1967 Marrocos"
terça-feira, 18 de outubro de 2011
domingo, 11 de setembro de 2011
Dibujo en el aire
Ya no quiero vivir con los temores
que prefiero entregarme a la ilusión
y lo que creo, defenderlo con firmeza,
sin historias que me abulten el colchón
Y si un día me siento transformado
y decido reorientar la dirección,
tomare un nuevo rumbo sin prejuicios
porque en el cambio esta la evolución
E el cambio esta la evolución
Que mi camino se encuentre iluminado
y la negrura no enturbie el corazón
discernimiento al escoger entre los frutos,
decision para subir otro escalón
Vivir el presente hacia el futuro
guardar el pasado en el arcón,
trabajar por el cambio de conciencia,
dibujar en el aire una canción.
Chambao, Pokito a Poko, Dibujo en el aire
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Em cada pé que se pousa
Os pés são ferramenta essencial desse teu corpo. Base que te leva e traz. E até os meus pés foram confrontados nessa sua fragilidade aparente. Expostos a cada momento, olhei-os como nunca os tinha olhado. Soltei-os. Finquei-os na terra e fiz deles parte consciente de mim. Faz toda a diferença se te transportas de um lado para outro, corpo físico ao serviço de uma mente ou te tomas como corpo, espírito e mente, partes iguais de um todo maior. Cada um como parte de ti e dessa tua missão que se trava a cada momento, em cada pé que se pousa. Pés que se encontram com a terra seca e áspera, com os mosaicos frios e húmidos, com a água da loiça que cai, com o pó que se acumula na mercearia, com os peixes que te tratam como num spa, com a abelha caída que acabaste de pisar, ou ainda com o sapo que te acabou de saltar.
Cada sensação mostra-te onde estás, lembra-te que estás aqui, neste sítio, agora, e não te deixa vaguear, dentro do conforto dos teus sapatos que pisam a realidade sem a olhar. Lembram-te que a natureza chega para cuidar do teu corpo. Mostram-te que apenas um momento de distracção pode valer muito porque vives sem o layer da protecção. E dizem-te que és simplesmente mais um, mais um ser entre tantos, que percorrem o mesmo caminho, sobre a terra.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
E de repente, eu fui até ti
De repente, senti o cheiro que há anos não sentia. Veio até mim e levou-me muito longe. A flor branca caída, de odor intenso e profundo. Mergulhei assim, fundo em mim. E logo sorri. Sorriso aberto, espontâneo, seguro.
Jasmim
Os cachos enfeitam os seus cabelos lisos e brilhantes. Diariamente, como quem se perfuma. São mais elas. São mais belas.
De manhã, na esquina, na rua. Colhe, faz, vende, compra. O ritual repete-se.
Amanhã, outra vez.
domingo, 16 de janeiro de 2011
O caminho
"E o mundo sente, todos nós sentimos (e eu chorei por isso mesmo) que me falta qualquer coisa, que a máquina está perturbada, que o caminho não é exactamente este e que os anos passam..."
Fernando Távora, Diário de Viagem aos USA, 1960
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